24.9.11

Atenção meiga



Ela olhava e com aquele olhar cativava as pessoas à sua volta porque em lado algum existia uma mulher que penetrasse na nossa esfera daquela maneira. Ela não o fazia de uma forma abusiva como se quisesse saber todo o nosso mundo. Muito pelo contrário. Capaz de nos olhar compreensivamente, passivamente até, ela aguardava que nos revelássemos à sua frente. Não nos apressava e por isso, ela brilhava. 
Mas quem a viu naquela noite reparou que aquele olhar só existia para aquela pessoa à sua frente. Ela via os olhos dele tal e qual como via as estrelas perdidas no céu nocturno, com uma atenção meiga porém acutilante. Perdia tempo, tempo imenso, a perscrutar cada milímetro daqueles olhos e no entanto... No entanto, nunca a vi mais apagada. Tudo brilhava, cada cor mais forte do que nunca, mas ela... Tão cinzenta, tão difusa, tão perdida. 
Senti uma necessidade imensa de ir ter com ela. Queria recuperar-lhe a luz. Contudo, quando caminhava ao seu encontro, ela reparou em mim. 
Olhou-me. Entendeu. Fechou os olhos e sorriu. Quando os abriu para os meus continuava a sorrir. Foi a minha vez de entender. Voltei a sentar-me e deixei-a. Talvez fosse o melhor. Cada um caminha ao seu ritmo, cada um enfrenta os seus problemas como quer e ela prefere enfrentá-los sozinha. Eu percebi… Sorrimos.

(Já é um início...)

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