24.2.11

Matemática duma vida

- Vê lá isto... Tem imensos anos, descobri lá em baixo na garagem.
- O que é?
- Lê e já vês!
- Dá cá!

A páginas tantas de um livro de Matemática um nobre quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita. Olhou-a com uma expressão inumerável e considerou-a, do ápice à base, como uma linha ímpar, olhos em elipse, boca trapezoidal, cintura em parábola, seios esferóides. As suas vidas caminharam longo tempo paralelas até que se encontraram no infinito.
- Como se chama? - indagou ele em ânsia radical.
- Sou a soma dos quadrados dos catetos, mas pode tratar-me por Hipotenusa.
Conversaram um pouco e logo descobriram que eram primos entre si, o que quer dizer, aritmeticamente falando, que se entendiam muito bem. E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz, numa potência elevada à sexta, traçando, ao sabor do momento e da paixão, rectas, curvas e linhas sinusoidais nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das formas euclidianas e os partidários do Universo infinito; romperam as convenções newtonianas e pitagóricas e, enfim, resolveram casar e construir um lar, mais que um lar, uma perpendicular. Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissectriz e fizeram planos, equações e diagramas para o futuro, sonhando com a felicidade íntegra e diferencial.
Passados 3 anos tiveram uma secante e 3 cones muito engraçadinhos e foram felizes até que um dia tudo se transformou em monotonia. Foi então que apareceu o Máximo Divisor Comum, frequentador de círculos concêntricos viciosos, e ofereceu uma grandeza absoluta e a reduziu a um denominador comum.
O quociente percebeu então (os quocientes são sempre os últimos a saber...) a existência de um triângulo chamado amoroso.
Nesse problema a incógnita era uma fracção das mais ordinárias mas acontece que Einstein chegou a propósito e descobriu a relatividade e tudo o que era mau passou a ser moralidade como aliás em qualquer sociedade.


- Vais ter de me deixar passar isto!



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