29.12.10

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O que é gostar de alguém?

Alguém me colocou esta questão à uns dias e deixou-me a pensar nela até hoje.
Muita coisa ouvi sobre este tema. Nada que me satisfizesse. Por isso proponho uma resposta minha, ou pelo menos, a que eu vejo como minha.
Gostar de alguém... Requer sedução, honestidade, disponibilidade, coragem, perseverança, compreensão, lealdade, confiança, perspicácia... (Pode ser que me lembre de mais algumas adiante) 
Vamos encarar o gostar de alguém como uma aventura. Então, esta aventura:


Requer sedução para podermos conquistar o tal, ou, a tal. Não falo de sedução barata, aquela que o/a agarra no início. Estou a falar de sedução a sério! Aquela que nunca deve ser abandonada, aquela que deve existir em todas as relações até ao fim dos tempos! Gostar de alguém é uma batalha constante, às vezes perdemos. Por isso é necessário que a conquista nunca acabe. Honestamente, quando a conquista, a sedução, a provocação acaba, onde resta a piada de gostar de alguém?
Requer coragem porque vamos ouvir muita m**** ao longo de todo o caminho. Quer da pessoa de quem gostas quer dos que estão de fora. Às vezes ouves cada treta que te deixa boquiaberta, do tipo, "Como é que ele/ela é capaz de dizer esta barbaridade?".Bem às vezes dizemos coisas inacreditáveis. É inerente ao ser humano xD
Mas o que realmente importa é ter coragem para lidar com isso. É a forma como lidamos com isso que nos molda, que nos revela perante todos. Portanto, nada de desistir vale? Sejam chatos!
Sejam perseverantes. Vamos ouvir muitos não, muitos talvez (estes deixam-me doida,por isso também gosto de usá-los de vez em quando :P), mas um dia, um dia quem sabe o sol brilhará mais forte, a relva será mais verde e os nossos corações baterão mais. (muito foleiro? foi intencional.)


Gostar de alguém é darmos um pedaço de nós e recebermos um pedaço do outro. E é assim que nos tornamos um pouco dependentes. É por dar um pouco de nós que sentimos que a nossa felicidade depende dessa pessoa. E até é verdade... Mas isto não acontece só entre quem está apaixonado, também acontece entre amigos. Quando o meu amigo está triste eu, decerto, não estou feliz.


Mas melhor do que uma rapariga de 18 anos temos o grande Alvim num ensaio sobre este mesmo tema, enjoy:

by smokedval

Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e por vezes — em mais casos do que se possa imaginar — existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram — querem — mas quando gostam — e podem gostar muito — há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açúcares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui, que me irrita a pele.”
Ora, por vezes o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos. E muitas das vezes sabendo deste nosso problema escolhemos para nós aquilo que sabemos que invariavelmente iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que — aqui entre nós — é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de dez anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou — e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide — foram as expectativas que nós criámos em relação a ela. Impressionados?
Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil — dizem — é saber quando gostam de nós e quando afirmam isto, bebo logo dois “dry” Martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil, porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “Ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “Ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “Ai que não vi a tua chamada não atendida”. Quando se gosta de alguém — mas a sério, que é disto que falamos — não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há SMS que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque não recebi as flores que pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de impossibilitar o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém — e estou a escrever para os que gostam — vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante do que nós.
Fernando Alvim, Jornal Metro (13.10.07)

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